Na passada quarta feira tivemos a oportunidade de fazermos um debate via SKYPE com o Grupo do GEMAP que teve como convidado especial o autor do texto que publicamos: Roberto Galvão.
Como informe chegamos a ter uma audiência de 60 pessoas entre o uso do Instagram, e Facebook.
Devo confessar que não tenho ideia de como isso funciona e a parte técnica foi administrada remotamente pelo Carlos Eduardo Almeida que tem sido o grande impulsionador neste sentido. O que começou às 16:30 se estendeu até as 19hrs, ou seja, mais de duas horas de transmissão e proveito para todos nós.
Pretendemos continuar o debate dentro da discussão do conceito decolonial e as nossas práticas.
Dia 8 de Abril temos mais um encontro marcado e estarei disponibilizando leitura.
Fica aqui então um muito obrigada Professor Roberto Galvão por sua generosidade.
Namastê
( foto: RR - Porto atelier de Gravura da Arvore 2015)
A elaboração deste Blog agora irá refletir a respeito das questões que desenvolvemos no Grupo de Estudo de Museologia, Arte e Patrimônio da Universidade Estadual Vale do Acaraú, é claro que as vivências relativas à trabalhos exposições vão surgir com a participação dos meus colaboradores que cada vez são mais preciosos. GEMAP/UVA Coordenação Regina Raick Vinculado ao Curso de História
segunda-feira, 30 de março de 2020
terça-feira, 24 de março de 2020
Decolonização nas Artes
O seguinte texto é de autoria do Roberto Galvão e está aqui publicado na integra com sua autorização para fins de orientar o debate a ser realizado dia 25 de Março de 2020 online com o GEMAP às 16:30 horário de Brasília.
DECOLONIZAÇÃO
NAS ARTES
Roberto
Galvão
É preciso perceber o processo atual da
colonização que nos impõem os centros de poder cultural como uma
ocupação ideológica, que se dá através da educação e não da
ocupação territorial.
Vivemos hoje um processo que se utiliza da
desterritorialização dos Estados, onde os Estados são maiores ou
menores que seus territórios. Um exemplo prático do que estou
falando é o Estado de Israel. Ele é bem maior que o seu pequeno
território, Israel é um estado desterritorializado que está em
muitas partes do mundo, principalmente nos Estados Unidos e na
Europa. O Brasil seria um exemplo às avessas. Somos bem menores que
o nosso imenso território.
POR UMA OPÇÃO NOS FAZERES DAS ARTES E
NA HISTÓRIA DAS ARTES
Apenas com um pouco de observação e
sensibilidade, ao se deitar os olhos sobre as nossas produções
artísticas mais incensadas e para o que nos é contado em nossa
história das artes, logo se percebe a existência de uma ideologia
cruel que controla o pensamento dos nossos historiadores, artistas,
dos seus familiares e dos seus pais e amigos e até dos jovens
estudantes de arte.
Imagina-se o artista, em senso comum, como
um produtor de bens estéticos, sofisticados, de consumo de luxo. E
pior, vivendo numa sociedade pobre, para não dizer miserável e
inculta. E se o artista não obtém ou não consegue atingir o nível
de mercado esperado, forma-se um clima de fracasso, de insatisfação
para o artista, para os amigos e familiares.
Nisso, nessa postura, pode-se perceber,
existe um grande equívoco. A razão de ser do artista não é
produzir para o mercado, para alcançar sucesso ou obter ganho
monetário. Se ele for atingido pelo sucesso, tocado pela riqueza -
ótimo. Mas esse não é objetivo primeiro de quem se propõe a fazer
arte e ser artista. É desvelar o mundo, comunicar as suas
observações e visões, expressar-se.
É como se o objetivo de um médico fosse
realizar muitos atendimentos diários em seu consultório ou realizar
um grande número de cirurgias semanais e não – conseguir
restituir a saúde de seus clientes.
Imagine um sacerdote se notabilizar
positivamente pela quantidade de missas realizadas ao dia ou
casamentos em igrejas dos bairros ricos de sua paróquia. Imagine um
padre sentindo-se fracassado porque não conseguiu encomendar 30
corpos no mês.
Na verdade, a função dos artistas é
formativa. É produzir arte, entre outras coisas, para desenvolver a
cultura, ampliar a sensibilidade dos seus observadores, mostrar novas
visões do mundo, promover novos modos de entender as coisas, mostrar
novos olhares, possibilitar novas leituras, desafiar os padrões
estabelecidos possibilitando novas consciências, novos pensamentos
criativos.
Com esses objetivos, devemos fazer a opção
por aderir as práticas que foram inviabilizadas, reprimidas,
proibidas sob comando de uma ordem acadêmica colonialista e de um
modernismo internacionalista castrador dos conhecimentos e das
culturas ditas locais, talvez até mais universais que algumas
europeias.
Estamos vivendo um
impasse: ou aceitamos ser ideologicamente dominados ou partimos para
uma ruptura radical e fazemos uma opção crítica, antropofágica,
devorando o que é bom para a nossa cultura, para as nossas artes,
atendendo nossas necessidades e desejos livres de interesses
alienados e alienantes. De qualquer maneira temos que nos
reposicionar e reorientarmos nossos caminhos. Primeiro precisamos
saber quais são realmente os nossos desejos. Temos que escolher o
que desejamos. Existem coisas nesse processo de aculturação ou
mundialização eurocêntrica que pode nos ser útil? É claro que
existem. Mas, a decisão deve ser nossa sobre o que devemos beber e
sobre onde devemos alimentar os nossos espíritos e mentes. Não
devemos aceitar nada que nos seja imposto, principalmente artistas e
historiadores não devem e não podem aceitar prescrições.
Que tal pensarmos
criticamente sobre o eurocentrismo cultural que nos domina; sobre a
visão excessivamente capitalista que se imbrica com os fazeres
artísticos; e sobre a degradação ambiental, o neoliberalismo, o
colonialismo, o racismo, e o machismo. Na verdade, os artistas
deveriam trabalhar para defender os valores éticos; a justiça
social, com uma melhor distribuição de renda, com salários mais
justos; a liberdade de pensamento e expressão; e o acesso integral
ao ensino de qualidade, ao esporte, a cultura e ao lazer.
É preciso fazer
perceber de modo claro que depois de séculos de colonialismo, embora
a ocupação física tenha sido extinta, as posturas colonialistas
continuam vivas. Estamos em um colonialismo agora mais sofisticado,
talvez até mais penetrante. Ainda vivemos maneiras de conhecer
controlados: o lazer é controlado, o modo de vestir é induzido, o
modo de pensar é formatado, a comunicação é controlada.
É preciso resistir
contra o controle colonialista, contrapor as suas estratégias. É
preciso decolonizar as técnicas, o ensino, as leituras, a estética,
a arte e a história das artes. É preciso tirar das sombras algumas
manifestações culturais que foram eclipsadas ou reprimidas. É
preciso decolonizar os modos de criação, de se fazer pesquisa e de
pensar, inclusive. É preciso
decolonizar o modo de redefinir o que é e o que não é arte. É
preciso questionar os modos de se estabelecer hierarquias no campo
estético.
Por que a pintura é arte e o bordado é
artesanato? Por que o que denominamos arte é superior ao que
denominamos artesanato? Por que expor em Paris é melhor que em
Sobral? Como cantar no Olímpia é mais significativo que cantar no
São João? Por que o erudito é superior ao popular? Por que o novo
em Nova Iorque é novo, e o que é verdadeiramente novo no Alto do
Cristo não é percebido e reconhecido?
Por isso é preciso
ser, ter e assumir um olhar crítico. É preciso perceber a
existência de outras histórias das artes, além da europeia. Existe
muita coisa que foi apagada, esquecida, lançada na escuridão.
É preciso, talvez,
pensar e tentar reescrever a história das artes, da cultura
ocidental, mundial. É preciso talvez refazer ou mudar o cenário
dessa cena teatral em que se transformou a História das artes. É
preciso repensar a arte universal. Por que a arte universal é a arte
Ocidental? A China, o Peru e o Senegal não existem? Por que não se
valoriza as artes não europeias?
Por que não pensar
na existência de múltiplas temporalidades? Parece que o tempo que
vale é o tempo eurocêntrico. Na verdade, existem visões de mundo
distintas. O certo é que precisamos decolonizar o espaço, o tempo,
a história, a geografia, os saberes, os fazeres e a estética.
A
decolonização das artes, da história das artes, da geografia das
artes é uma posição política que deve ser observada. É preciso
decolonizar o discurso moderno, branco, racista, ilustrado,
patriarcal, capitalista. É preciso ser crítico e pensar até onde
esses valores têm algo de verdade ou é estratégia de dominação.
A OPÇÃO DECOLONIAL NAS ARTES
Como já foi dito, embora o sistema
colonial dominante das regiões centrais sobre as periféricas não
empregue mais o controle direto e a possessão territorial das
regiões subalternas, o colonialismo hoje continua vivo e se
constitui numa ampla gramática social que atravessa a sociabilidade,
os espaços públicos e privados, a cultura, as mentalidades e as
subjetividades dos povos habitantes dos países periféricos.
Para fazer frente a essa situação,
segundo Mignolo (2007), torna-se necessário a realização de um
processo de descolonização epistêmico, ontológico e prático.
Ele nos propõe que nesse processo
devemos pensar e procurar encontrar alternativas econômicas novas;
outras teorias e ordenações políticas que melhor se adequem às
nossas aspirações de justiça social e, sobretudo, novas formas de
enfrentar a vida e viver.
Também nos propõe que temos que abrir mão
e retirar de nossas mentes as formas de saber e resoluções de
problemas que não são nossas e nos foram repassadas de modo
impositivo nos processos educativos colonialistas e da ilusória
retórica da necessidade de ser modernos e da própria modernidade
que, na verdade, nos escraviza ideologicamente.
Então, é preciso descolonizar os nossos
saberes e os nossos modos de ser para abandonarmos valores que nos
aprisionam, como o utópico desejo de modernidade cujas
características primeiras são o consumo, a violência e a
destruição, deixando de lado as estruturas sociais de origem
patriarcal, a hegemonia capitalista.
Precisamos buscar novas subjetividades,
outros modos de ser, de interagir com o que se nos apresenta como
realidade, e melhor conhecer e nos apropriarmos do mundo em que
vivemos.
Assim pensando, surgem algumas questões
para os artistas:
Na prática, como podemos desenvolver essas
propostas no campo das artes? Seria possível um modo de se fazer
arte ou expressarmos esteticamente as nossas percepções de mundo
diferente do que modo nos foi ensinado. Podemos resgatar o que nos
foi sonegado, eclipsado lançado no esquecimento nos campos de nossas
subjetividades e fantasias estéticas?
E, no caminhar vão surgindo novas
questões:
Seria possível olhar novamente a nossa
história das artes, e perceber que muitas vezes elas mentem e, modo
crítico, abdicar de alguns valores e opções estéticas que na
verdade não são nossos e, pior, são alienantes?
Será que temos condições reais de
aceitar como corretos e verdadeiros alguns modos de fazer e de
produzir que são enraizadamente coletivos, genuinamente nossos,
interculturais e desafiam a lógica interna do capitalismo?
Será que é impossível perceber que, na
verdade, pelo menos nas artes, não somos periferia? Que, de fato, no
nosso campo, não existe centro, nem periferia? Que a produção
estética é mundial, no sentido de plural, intercultural e
temporalmente não linear, no sentido de não tem origem
hierarquizada e de não poder ser enquadra em cronologias
unidimensionais?
E logo virá uma dúvida fundamental:
Será que jamais perceberemos que as
linguagens artísticas não são universais, como se afirma em senso
comum, e que, pelo contrário, na verdade as culturas são
condicionadas, por suas circunstâncias geopolíticas e
etnocêntricas, constituindo-se a propalada universalidade da arte em
mais uma mentira eurocêntrica?
CAMINHOS DESAFIADORES
Quais os caminhos que devemos trilhar para
encontrar respostas admissíveis para esses desafios que nos são
apresentados?
Acredito que a primeira trilha por seguir
encontramos nas propostas pedagógicas de Paulo Feire. Devemos buscar
ser sujeitos e construtores de uma visualidade apoiada em nossa
realidade física e cultural.
Devemos deitar
os nossos olhares de modo crítico nas tradições artísticas que o
nosso povo foi capaz de apresentar fora dos padrões colonizados.
Observando essas produções despidos de preconceitos logo
perceberemos que encontraremos nesses produtos soluções estéticas
para um devir artístico mais em sintonia com o nosso modo de ser.
Acreditamos que essa atitude muito ajudaria em deixarmos, pelo um
pouco, do que fazem os nossos produtores culturais na buscar de
inspirações nas produções europeias ou diretamente subsidiária
da cultura europeia, como a arte americana.
Um outro caminho seria repensar os
processos discursivos de nossa crítica artística, ainda
sistematicamente dependente e arraigada a valores e propostas
colonizadas, onde parece que o objetivo fundante dos nossos fazeres
artísticos seria/é alcançar as propostas apresentadas nos centros
culturais dominantes. Eles, os centros culturais dominantes: Paris,
Londres, Nova Iorque, Veneza, seriam os geradores de tendências e, a
nós periféricos, caberia apenas o papel de adequarmos nossas
propostas ou seguir seus percursos. E o que aqui fosse/é gerado de
diferente dos centros culturais, mesmo carregados de força e
novidade estética, não existiria.
Outra trilha necessária de percorrer é
reescrever a nossa história das artes sob novos olhares mais
críticos: a importância da produção do artista sobralense
Raimundo Cela não está em se assemelhar a Joaquim Sorolla ou Frank
Brangwyn. Está na incorporação da luminosidade do Ceará em suas
cores e na apropriação da temática do trabalhador cearense como
elemento central de suas pinturas.
A qualidade da obra de Antônio Bandeira
não está na sua sintonia com a produção de Wols e Brien e sim na
captação das luzes das cidades vistas de longe e na abstração da
explosão de fagulhas que percebeu nos trabalhos da fundição de seu
pai.
A importância das pinturas de Chico da
Silva não advém de sua premiação em Veneza e sim na assunção
das maneiras de aplicar cor que ele aprendeu em nossas artes
populares e mais adiante na incorporação no modo de produção
artesanal talvez colhido entre as bordadeiras e labirinteiras das
praias cearenses.
A história da arte brasileira está e
estará profundamente comprometida se aceitarmos, de modo não
crítico, a sua subalternização diante da história da arte
europeia. O correto seria/é incluir e aceitar como legítimas e
verdadeiras as artes sem influências colonialistas. Se soubermos
incorporar as tradições estéticas locais em nossa história, só
assim poderemos construir um território de arte com pensamento
próprio, autêntico, com possibilidade de produzir identidade e de
questionar valores que, em estando aqui, impostos ou não, estão
fora de lugar, não são verdadeiramente nossos.
Ressalte-se que o que propomos não é
negar os valores europeus que nos são transmitidos como globais ou
apenas uma questão de inverter polos. É uma postura de inclusão de
nossos valores, colocando-os em cena. É um processo de retirar da
escuridão muita coisa que foi lançada na sombra e de dirigir os
refletores para essa produção esquecida. Mostrar que existe arte
fora da Europa que ela possui qualidade independentes do cânon que
foi instituído pelos colonizadores.
Questionamos, também, essa aparente
obrigatoriedade de os artistas serem contemporâneos. Não devemos
aceitar essa imposição que nos empurra para todos sermos
“internacionais” (perceba-se que o internacional geralmente é o
europeu), seguindo pendores que não são nossos e de sempre estarmos
atualizados com as novas tendências das artes europeias. Isso é
coisa de oportunistas e não de artistas. Acredito que o artista tem
que fazer o que lhe vem na telha, o que o seu coração pedir, e o
resto que se dane. Artistas têm que fazer apenas que a sua obra seja
verdadeira, nada mais.
Também devemos questionar essa dependência
que surgiu nos últimos tempos de obtenção de reconhecimento
somente através da aceitação de nossas artes através do aval dos
curadores. Exerço muitas vezes o papel de curador de exposições,
mas estar nessa posição não me confere a capacidade de atribuir ou
(indiscutivelmente) reconhecer as qualidades de um trabalho
artístico. O curador pode analisar a competência técnica da
realização, da inserção da obra num determinado contexto, da sua
originalidade, da adequação dos materiais empregados, etc. Mas,
quem tem capacidade de dizer é ou não é; se é bom ou não é o
tempo. O artista propõe obras, o tempo reconhece como válidas ou
não. Todo o resto é invenção de quem trabalha para ou pretende
controlar o mercado.
-
(Roberto Galvão é artista plástico, historiador e arte educador.
Procurem
ver na internet algo sobre:
-
ANIBAL QUIJANO
- CATHERINE WALSH
- RODRIGO
CASTRO ORELLANA
- PAULO FREIRE
- WALTER MIGNOLO
Bibliografía
de textos que, diretamente ou indiretamente, abordam questões sobre
Decolonialidade colhida em fontes varias:
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Sobre o Autor - Professor Roberto Galvão
Texto extraído da aprestação da Exposição Mato Branco na UVA
No cenário das artes no Brasil, este artista que logo no início de sua carreira levou a arte Cearense para os Salões da Bienal de São Paulo tão cedo quanto 1975, oportunizou a formação contínua de arte educadores, a formação de jovens artistas, a promoção da cultura e do reconhecimento do artesanato Cearense. Enquanto curador trouxe importantes exposições nacionais e internacionais, nos oferecendo a oportunidade de ver e sentir de perto o que não se imaginava vir às “Terras do Sol”.
A pessoa de aparência pacífica guarda uma alma irrequieta e diligente, Roberto Galvão é um dos primeiros Historiadores do Ceará a pesquisar a arte, os artistas e o artesanato. A carreira de artista alia-se a de autor tendo já publicado mais de 30 livros sobre além de dezenas de artigos e textos, inclusive para fins didáticos, usados em programas de formação contínua de professores de arte e para guias e mediadores para o património.
Artista plástico, nascido em Fortaleza, domina grande parte das técnicas e materiais de seu ofício. Exímio desenhista, com um senso de observação privilegiado, o pintor explora as subtilezas da cor com a mesma facilidade que o gravador prepara suas matrizes e eleva a xilogravura ao reconhecimento que tem hoje : ARTE.
Receber a obra deste artista que tem ao longo destes últimos 20 anos contribuído de forma tão generosa e objetiva para a formação de públicos e artistas de Sobral e da região é para a Universidade Estadual Vale do Acaraú um prazer e uma honra.
R. Raick
Sobral, Outubro de 2019.
Estudos em Museologia, Arte e Patrimônio
O Grupo de Estudo em Museologia, Arte e Patrimônio criado em Junho de 2019 junto ao Curso de Licenciatura em História na Universidade Estadual Vale do Acaraú, tem se organizado como um fórum de debates onde a partir das experiências individuais de seus membros enquanto profissionais ou pesquisadores se debruçam sobre as questões relativas às artes, o Patrimônio e a Museologia e suas práticas.
Ao longo de nossa existência conseguimos realizar sistematicamente encontros quinzenais onde cada um dos membros e convidados trouxe sua experiência. O grupo tem uma estreita relação com outro grupo de estudos da Universidade GEPPU que vinculado ao grupo de pesquisa sobre pedagogia universitária e as questões da inovação orientado pelas Professoras Adriane Campani e Rejane Maria Gomes da Silva.
A nossa marca foi desenvolvida recentemente e é composta pelo desenho do capitel das colunas que sustentam o pórtico interno da Reitoria e uma estilização da marca da UNESCO referente ao Patrimônio Cultural da Humanidade e os círculos concêntricos representam a mentalidade holística necessária para se compreender e atuar nessas áreas.
A nossa propositura é uma aberta e interativa; nesse sentido agora em tempos de isolamento social nos organizamos para desenvolver encontros virtuais a começar por no dia 25 de Março debatermos com o Professor Roberto Galvão seu texto sobre Decolonial que recebemos a autorização de publicar aqui e assim o tornar acessível ao público.
O texto trata de nos instigar para refletir sobre os conceitos de decolonial, (des)colonial e suas consequências efetivas em torno da produção artística e intelectual. O artigo traz ainda uma significativa coleção de referências acadêmicas e artísticas que subsidiam a reflexão e nos incita a refletir além.
Ao longo de nossa existência conseguimos realizar sistematicamente encontros quinzenais onde cada um dos membros e convidados trouxe sua experiência. O grupo tem uma estreita relação com outro grupo de estudos da Universidade GEPPU que vinculado ao grupo de pesquisa sobre pedagogia universitária e as questões da inovação orientado pelas Professoras Adriane Campani e Rejane Maria Gomes da Silva.
A nossa marca foi desenvolvida recentemente e é composta pelo desenho do capitel das colunas que sustentam o pórtico interno da Reitoria e uma estilização da marca da UNESCO referente ao Patrimônio Cultural da Humanidade e os círculos concêntricos representam a mentalidade holística necessária para se compreender e atuar nessas áreas.
A nossa propositura é uma aberta e interativa; nesse sentido agora em tempos de isolamento social nos organizamos para desenvolver encontros virtuais a começar por no dia 25 de Março debatermos com o Professor Roberto Galvão seu texto sobre Decolonial que recebemos a autorização de publicar aqui e assim o tornar acessível ao público.
O texto trata de nos instigar para refletir sobre os conceitos de decolonial, (des)colonial e suas consequências efetivas em torno da produção artística e intelectual. O artigo traz ainda uma significativa coleção de referências acadêmicas e artísticas que subsidiam a reflexão e nos incita a refletir além.
quarta-feira, 18 de março de 2020
Amanhã, 19 de Março
Amanhã será comemorado o dia de
São José, padroeiro de Ceará, marceneiro, artesão, gentil e silencioso
personagem das narrativas bíblicas. Homem ímpio, temeroso a Deus e resiliente...
São José que protegeu e guiou enquanto pôde sua família, ensinou um ofício ao
filho que adotou e jamais, que se saiba, duvidou de sua missão enquanto pai.
Amanhã em meio à uma saga
internacional contra um vírus que se deu um nome e um número, provavelmente
iremos esquecer de refletir sobre o artesão. São José é o patrono do ofício de
todos nós que trabalhamos com nossas mãos transformando coisas, criando soluções
e objetos. As mãos calejadas da velha ou da avó que acalentam os males de uma
criança, são as mesmas que transformam a palha em cesto, a juta em tecida, o
algodão em fio. O saber milenar que carregam as memórias de um tecelão é como a
magia de um alquimista que extrai da casca cor e luz, o dom da criação de um
ceramista que faz do barro forma.
A Maria do Barro me disse muitas
vezes que tínhamos que ensinar a fazer a panela para que as enchessem ... fui
ler em um conto Zen Budista este princípio tão óbvio, tão simples, tão difícil
de se realizar. As mãos da Maria eram as mãos de quem viveu cada dia como
único, seu toque sobre o barro o transformava ... quantas vezes não começamos
nosso trabalho com a forma de um feijão, um ovo, passando para uma panela.
Criávamos e ensinávamos a perceber que da terra vem tudo, essa generosa mãe que
não tem piedade de revelar aos seus filhos o bem e o mal. Mais de trinta anos
se passaram e nunca mais falei sobre a Maria...ela era Cearense e foi a
primeira artesã a ser agraciada como Mestre Popular pela UNESCO... essa memória
se perdeu.
O Ceará é um Estado estranho,
andamos centenas de quilômetros e mal vemos uma plantação, percorremos o sertão
e vemos mato branco mas raramente vemos gado, sabemos que há vaqueiros mas esse
são como lendas ou fantasmas na mata seca... andamos pelos povoados e sempre
vemos uma mulher sentada à beira da porta suas mãos não param, sua atenção não
desvia da criança, da estrada ... silenciosamente ora, trabalha, espera.
Tenho um Ceará romantizado dentro
de mim, um lugar onde se luta e sobrevive, onde desapercebidamente as mulheres
vão garantindo o estudo de seus filhos, a orientação da economia doméstica...
um estado que deve tudo a uma população que vive e trabalha na informalidade,
que finge não existir mas que se orgulha do que é.
A beleza de um bordado, uma
bainha aberta, o crochete que enfeita as varandas das redes de dormir, a cadeira
de couro que passa de geração para geração, o labirinto, o gibão, a sandália de
couro, a mala que carrega isso tudo, a esteira onde por fim estendemos o
corpo... tudo isso é parte de uma cultura que se desdobra nas vidas de todos
nós e que ao mesmo tempo se perde em meio aos sons e as palavras da modernidade
e do esquecimento.
Amanhã é dia de São José, dia do
artesão, dia de olharmos para as mãos que transformam a crua realidade em
beleza e bem, é dia de agradecer esse saber proveniente da vida que não se
conhece a razão ou a origem mas tem a ciência inegável do cosmos.
Amanhã se lembrarmos será uma
forma de resistir.
18 de Março de 2020
Ações Educativas : a novidade do conhecido
Sobre as Ações Educativas
a importância dos jogos
sua funcionalidade dentro dos processos educativos e de socialização
o conhecido e a criatividade.
Imaginem este inicio de publicação tem quase 3 anos.... vou colocar só pelo registro.
a importância dos jogos
sua funcionalidade dentro dos processos educativos e de socialização
o conhecido e a criatividade.
Imaginem este inicio de publicação tem quase 3 anos.... vou colocar só pelo registro.
18ª Experiências Museológicas
2019 Uma história que continua
O tempo passa e os desafios sejam ele de que natureza se manifestem continuam a se manifestar. As Experiências Museológicas têm múltiplos tipos de desafios:
1. incentivar jovens futuros professores a pensar e vivenciar os museus, o patrimônio e o próprio conhecimento como algo a ser apresentado e que está de modo difuso nos locais menos esperados;
2. que ao apresentarmos aos públicos qualquer coisa, tema ou objeto estamos também produzindo conhecimento ou o reproduzindo e o interpretando;
3.que podemos através de nossas ações gerar acessibilidade cognitiva em todas as áreas uma vez que a transposição didática se pode fazer sempre que haja conteúdo;
4. incentivar e promover o exercício da ação criativa, torna-los cientes de que são imitados por zonas de conforto que devem ser vencidas.
Depois há outros tipos de desafios:
1.realizar as exposições e produzir ações educativas sem orçamento de apoio para isso;
2. criar e ocupar espaços que nem sempre estão adequados para receber este tipo de atividade ;
3. buscar apoios institucionais e não só para a realização deste empreendimento;
4. tratar com equanimidade a todos os grupos, temas e trabalhos, sendo que somos humanos e inconscientemente tendemos a privilegiar... ;
5.obter e ou produzir os meios para que a exposição se dê de forma otimizada;
6. potencializar a visitação e frequência de modo a se tornar uma experiência pertinente para todos e um contributo para a formação de públicos.
7. .... infinitos são os desafios!
Bem estamos frente a desafios, tensões, problemas reais e imaginários. Há uma certeza: a de que desejamos e estamos fazendo o máximo para realizar esta exposição que pretendemos ser mais um evento do que qualquer outra coisa.
Programamos:
6 a 12 de Agosto a montagem das exposições (serão 18)
13 de Agosto será Abertura e a avaliação das Experiências Museológicas
14 de Agosto será a exibição dos curtas relativos ao Patrimônio Regional
15 de Agosto será a avaliação das Ações Educativas relacionadas à 7 exposições.
Como e porque se chegou a esse formato?
Uma das coisas que sempre me incomodou como professora de ensino superior foi o esforço que os alunos têm para obter conhecimento e técnicas e a sua reclusão ao âmbito da sala de aula ou do grupo acadêmico restrito. Acredito que quanto maior a interação comunidade - academia mesmo que a saída dos limites dos muros não aconteça, melhor estaremos desempenhando o nosso papel educador.
A museologia que é com que mais trabalho atualmente, sempre esteve presente na minha prática mas nem sempre esteve explicita. Em 2010 quando integrei o colegiado de História na UVA me propuseram o desafios das disciplinas relacionadas à patrimônio e museologia.
A primeira reação foi de receio em relação à museologia e tranquilidade em relação ao patrimônio uma vez que é o tema de minha eleição prática desde as reuniões do PNDA (Programa Nacional de Desenvolvimento do Artesanato/Min.Trabalho) e o meu tempo de bolsista Pró Memória da UnB (1981 ... 83). A museologia foi sempre algo que eu fiz muito mais intuitivamente ao montar exposições do que refletidamente.
Em finais de 2010 tive a oportunidade de entrar em contato com o programa de doutorado da Universidade Lusófona de Lisboa, isso me trouxe um contato breve com o Professor Mário Moutinho e a Professora Cristina Bruno, me despertou para leituras cada vez mais técnicas mas o que realmente fez a diferença prática foi o convívio com o Roberto Galvão e a sua equipe. Simultaneamente recebi duas orientações acadêmicas que me desafiaram tremendamente: a do Professor Fernando Larcher e a do Professor Henrique Coutinho; o primeiro me fez refletir através de um recorte historiográfico formal os conteúdos e as temáticas que já vinha trabalhando mesmo tendo uma abordagem interpretativa que não foge a minha formação em antropologia e história da arte e o segundo dentro de uma reflexão da construção de unidades museológicas e expositivas dentro da Ecomuseologia, muito mais interativo e próximo a preservação de identidades. A teoria e a vivência subjetiva de ser de algum modo consequente em nossas práticas.
Descobri muito por questões que são um compósito de questões culturais e de acessibilidade, boa parte dos alunos tiveram reduzidíssima ou nenhuma experiência de visitação ou frequência a museus, percebi que isso se estendia a outros tipos de equipamentos culturais e que o meu desafio imediato seria dentro da adversidade criar mecanismos de sensibilização. A existência de Museus não significa que estes são ou serão frequentados e isso não era de imediato uma percepção, aos poucos fui compreendendo que quanto mais eu poderia aproximar o meu aluno de História do Museu e do fazer museológico maior seria a oportunidade deste perceber como e quando poderia transformar uma visita de estudo em algo mais do que uma desculpa para sair da sala de aula e criar um instrumento didático através dessa frequência.
A primeira experiência se realizou durante 2 horas no CCH em uma sala de aula onde os alunos tentaram criar um panorama da Devoção religiosa na região criando com isso um mapa e um painel com fotografias e informações, em seguida passamos a ocupar os corredores do Centro de Ciências Humanas durante 2 anos, de lá fomos para a sala multiuso da ECOA onde permanecemos 5 anos, em 2016 fomos para o Centro Cultural Trajano de Medeiros no Campus do CIDAO, de lá fizemos dois eventos nos espaços do Memorial da Educação Superior de Sobral e agora voltamos para o Trajano de Medeiros.
Desta vez são 17 grupos exporem, pensamos em fazer uma mostra de livros publicados pelos professores de História e algo como uma homenagem ao Padre Sadoc com a Cronologia Sobralense.
Desta vez são 17 grupos exporem, pensamos em fazer uma mostra de livros publicados pelos professores de História e algo como uma homenagem ao Padre Sadoc com a Cronologia Sobralense.
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