quinta-feira, 27 de junho de 2013

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Mato Branco

A observação da natureza, sua recriação e transformação em arte é parte de um processo que pode parecer simples mas que tem nuances de complexidade que geram admiração, espanto, reconhecimento.


Roberto Galvão, expõem na Galeria José Guedes em Fortaleza uma série de monotipias, desenhos à nanquim, aguarelas e pinturas sobre tela. O que surpreende a qualquer artista ou pessoa mais próximo à produção de artes plásticas é o fato de entre as quatro técnicas e os trabalhos expostos, sermos incapazes de perceber maior domínio de uma técnica sobre a outra ou de entre os trabalhos haver um que se destaque como elemento de cristalização de um processo. Admito que em todos os anos que tenho visto, frequentado e ocasionalmente apresentado exposições foi rara a vez em que esta homogeneidade de produção se revelou de modo tão claro e principalmente em se tratando de técnicas tão diversas. O artista revela a maturidade em todos os sentidos de sua produção artística e a verdadeira maestria de quem frente ao desafio em branco se debruça com prazer.

Mato Branco, é a criação de uma natureza que se torce e retorce que ora parece ser vida, entranhas, órgãos vitais, ora nos remete ao sertão e a vida agreste onde a flor se protege com espinhos e a rudeza da sobrevivência se alia a beleza silenciosa da esperança. A dialéctica de caules e frutos, entre folhas e espinhos poderá nos induzir à reflexões de ordem filosófica sobre as intempéries e os processos de luta do homem na natureza e da natureza do sertão. Vejo em Mato Branco uma interpretação recoberta de realismo da vida, fala-me de tudo que vejo e ouço das pessoas, nos noticiários, que observo quando saio estrada à fora para tentar me encontrar com o que imagino ser o real… Mato Branco está em meu quintal, entre as flores do meu jardim que lutam dioturnamente para sobreviver no calor e na falta constante de água e humidade, está também na busca de cada um de nós frente a desafios e impedimentos…

O que Roberto Galvão nos oferece é o que a arte deve sempre oferecer de modo quase ideal: a oportunidade de ao contemplar, fruir, trazer à superfície os sentimentos as vezes contraditórios, o reconhecimento de algo que está para além de nós.