sábado, 12 de agosto de 2017

Entre os desafios e a lucidez.


Uma nota normal e quem sabe uma tentativa de explicar o que acho não ser preciso.

Há muitos anos no Desenho na UnB um grupo de jovens desejos de dominar técnicas de aprender o que os nossos professores não nos ensinavam  se reuniram no bar 'Suvaco de Cobra' dessa vez nºao para cantar e declamar poesias junto com papo furado mas para pensar como fazer, isso era 1981 ... eu acho. Dessa conversa nasceu uma das experiencias mais felizes que vivi em minha vida - o Atelier Livre - entre pedidos e promessas conseguimos que nos abrissem o departamento aos sábados e lá íamos nós ensinar uns aos outros, pousar, corrigir, rir, conversar, sonhar... Hoje desse grupo, dos que ainda sei por onde andam todos estão nas artes, fazendo da criatividade seu ganha pão... ainda sonhando mas principalmente realizando.
Quanto tempo se passou. Em 1997 vim bater no Ceará, voltei a pintar com assiduidade, orientei vários jovens de então nos caminhos da história da arte e voltei a sonhar com um lugar aberto para compartilhar o que aprendi e descobri assim nasceu o primeiro projeto Atelier Livre para a UVA, isso foi 2001. Em 2003 por conta de cursos de materiais alternativos me deram sem dar o laboratório onde funciona ainda hoje a Direção do Centro de Tecnologia na Campus da CIDAO... confusão entre a UVA e o então CENTEC, me solicitaram que saísse do espaço e suspendesse as atividades que se concentravam aos fins de semana que é quando "as pessoas tinham tempo para essa coisa das artes".... 2004 é construído um mezanino por cima do laboratório de eletricidade para abrigar a Biblioteca do CAMPUS, mais confusão a Biblioteca não foi para lá, espaço vazio, e "oficialmente" o Reitor entrega e equipa o espaço para ser o Atelier Livre da UVA, entre as pessoas que chegaram veio o Rodrigues Neto, um dos melhores professores que já conheci, uma pessoa que nos faz ter orgulho do que fazemos... exímio xilogravador, ganhamos uma prensa e os sábados e domingos, feriados e momentos livres passaram a ser preenchidos por boa musica, conversa, desenho, ensaios, aulas. Boa parte de toda a produção artística de Sobral entre 2005 (com certeza) e 2007 passou por aquele espaço. Em 2006 entre o acompanhar a luta contra o câncer de minha mãe e o início do meu Doutoramento me afastei de Sobral, de visita em 2008 fico sabendo que o Atelier foi destruído fisicamente  ... os equipamentos colocados não se sabia onde ... em 2009, localizei o material e reiniciei a peregrinação em busca de um novo lugar...
Cupim, desaparecimentos, descaso... o Espaço Cultural Trajano de Medeiros ironicamente um enorme deposito e l+a no meio a prensa de xilo, a guilhotina, ninguém sabe ou viu as mesas e os bancos que doados para o Atelier, cavalete de estúdio, cavaletes ... ventiladores, estante de secagem, os armários, estantes, ventiladores, quadros, iluminação...muito como estou hoje, triste, decepcionada com instituições e pessoas que só vêem os seus próprios fins, sai em busca de conversar com pessoas que poderiam talvez apontar um caminho para recomeçar, agora pela terceira vez. Foi assim que conheci o Roberto Galvão, melhor que passei a dialogar com ele.
Os Salão Sobral (cinco ao todo) coordenados por ele e de sua lavra já nos tinha aproximado em um momento extraordinariamente tenso para todos nós... acho que as lembranças que ele deveria ter de então deveriam ser no minimo de receio. Anjos, sábios e artistas, são apostadores; o Galvão apostou no Atelier e me deu carta branca para me instalar no prédio da ECOA... um espaço magnífico e uma vontade féria dele, minha e do Campelo de se reunir os artistas plásticos da cidade para trocarmos experiências. As quartas feiras estávamos lá para conversar, mostrar trabalhos desenhar, e até aprender xilogravura com o R. Galvão. Aos poucos a ECOA foi abrigando novas propostas, trabalhando diagnósticos até que com o apoio da PETROBRAS, conseguimos deslanchar com as "escolas" inclusive a de artes plásticas - o Atelier Livre. 2017, nova gestão, mais uma vez o fim do Atelier, sem diálogo com a nova gestão, pegamos o equipamento que tínhamos produzido e saímos antes de sermos expulsos.
Meu olhar e ação com a conivência (ao menos assim compreendi) de todos os envolvidos e administradores do espaço voltei-me para o Espaço Cultural Trajano de Medeiros, investiguei e a informação obtida é que na verdade o espaço não estava sendo utilizado e se nós o ocupasse com o princípio da reversibilidade e "uso compartilhado" não haveria problema. Erro.
Levei o material e o equipamento, montamos duas exposições lá mas não conseguimos um monitor para ficar lá, também não recebemos a confirmação de que poderíamos começar a trabalhar, havendo só informações contraditórias e promessas.
Bem comecei este relato porque desde Fevereiro semanalmente me encontro com alguém da administração da UVA e tenho novas ordens sem soluções, o último evento contraditório foi a Calourada que segundo constou seria no Trajano mas ao mesmo tempo estava sendo preparada para acontecer no Campus da Betânia, na quarta feira daquela semana fui convocada as pressas para retirar todos o material do espaço do Trajano para que ocorres a festa... soube de troca de farpas através de facebook e nas outras redes sociais... bem isso só mostra como somos desunidos, poderiam ter vindo falar comigo, eu nunca nego auxilio.
Hoje é dia 12 de Agosto de 2017, o Atelier continua sem endereço, somos mais de dez pessoas desejando trabalhar e quem sabe outro tanto a espera que reiniciemos para se aproximarem... O Atelier é o meu projeto, por isso me responsabilizo mas o Atelier não é de ninguém e sim de todos, ele é livre.
Desse modo estou me tornando um aborrecimento para os que me conhecem, a luta está enorme e beiro a desistência... quero dizer muitos nãos, quero não me preocupar ou empenhar me proponho à negligência mas não sei se terei a coragem ou o egoismo de a viver.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Dizer o indizível... se não se pode dizer então como dizer?

Mesa redonda sobre Museus
Organizador: Casa do Capitão Mor
Mediador: Professor Doutor F. Denis Melo
Intervenientes: Arquiteto Antenor Coelho MS (MDJ)
Prof. Doutora M.Somália Sales Viana (LABPALEO/UVA/MDJ)
Prof. Regina Raick MS (UVA)

Sobral, Casa de Cultura, 15 de Maio de 2017

Reflexões e apontamentos sobre o tema da   15ª semana dos Museus : Dizer o indizível



Dizer o indizível
Paradoxal! Como se pode dizer o que não se pode dizer?

O que poderá ser apresentado que não teria outra forma?


Há algo como verdade ou elemento que não possa ser questionável?



A questão do indizível poderá ser a do conceitual ou imaterial … poderemos musealizar sentimentos (?); como se transformou em objeto a língua, a fala e a oralidade  (o caso do paradigmático do Museu da Língua Portuguesa).

As propostas museológicas de viés teórico seja a Sociomuseologia ou a Ecomuseologia, partem do dialogo muitas vezes conflitante de vontades das comunidades (as populações envolventes), as administrações de unidades museológicas e o objetivo/surgimento da unidade museológica.



A pretensão de uma ação “politicamente correta” pode nos induzir ao “erro” da ação oposta – reificar o outro – no entanto o que se quer é criar discursos plurais por vezes até discordantes mas dialógicos

O museu é um instrumento de representação social e em grande medida um espaço de luta pela hegemonia enquanto um elemento simbólico de poder.

Essa na verdade é uma posição comoda uma vez que nós que a proferimos nos vemos como minorias ou não representados... o que não compreendemos é que ao construir esse discurso somos de fato os produtores e reprodutores dessas circunstâncias.


Os discursos museológicos são na verdade fruto de escolhas de disposições mentais de seus doadores, pesquisadores e colaboradores de todas as ordens e esferas e em grande medida representam não o que a comunidade deseja mas o que é possível dentro dos grupos e suas forças fazer representar.



Estes são alguns tópicos de reflexão que desejei compartilhar.

Obrigada,
Regina Raick
Curso de História
Universidade Estadual Vale do Acaraú

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Entre o olhar, a fotografia e a arte



Entre o Olhar a fotografia e a arte




In all things, moral and intellectual, we should act on the belief that we really possess only what we have conquered
ourselves that we are made perfect by natural habits, but slaves by social conventions; and that until we have become
accustomed to beauty we are not capable of truth and goodness, for by beauty we mean the principle of harmony which
is the given order of the physical universe, to which we conform and live, or which we reject and die (Read, 1944,
p. 25).


Em todas as coisas
seja da moral ou da intelectualidade
devemos agir
como se na verdade só possuíssemos
o que realmente temos conquistado por nós mesmos,
por aquilo que tornamos perfeito pelo habito
mas escravos pelas convenções sociais ...
até que tenhamos nos tornado habituadas à beleza
não somos capazes de professar a verdade ou a bondade,
por beleza infiro na harmonia que ordena o universo físico
perante o qual nos conformamos e vivemos
ou rejeitamos e perecemos.
(H.Read, 1944)

Em um tempo em que tudo parece se transformar em incógnitas tendemos a buscar certezas mas essas se perdem frente a dureza da realidade ou no abraçar de sonhos vãos.
Utopias , pequenas e grandes ilhas, ilusões ou miragens que nos fortalecem com esperança, assim é a juventude, assim é termos um propósito ulterior.
Ao tentarmos apreender o mundo queremos apresentar tudo, queremos ser capazes de ultrapassar barreiras, fronteiras entre o conhecido e o por conhecer, quem tem esse propósito se verá sempre frente ao enorme desafio que é romper as convenções e de certa forma provar como Colombo ou Einstein que o mundo se forja de mais do que o aparente. Na linguagem científica, clamo para que se entenda que é preciso romper paradigmas e construir e dar saltos epistemológicos reais para se poder criar… não ter medo, ser perseverante, desafiar princípios estabelecidos.
Herbert Read ao longo de sua trajetória sempre clamou pela importância da arte, para ele a essência reside no encontro, reconhecimento e produção da linguagem visual, na libertação dos cânones, na vivência criativa.
Qual o grande dilema que decorre dessa postura?
Ao quebrarmos com o estabelecido forçosamente abdicamos de rotinas e com elas rejeitamos o status quo… a sociedade até então existente, programada, deixa de o ser, e as expectativas são ilusões porque tudo terá que ser construido, redimensionado.

A arte avança com a liberdade e arrasta as ciências … se olharem para os avanços extraordinários no âmbito da tecnologia virão que estes apenas atenderam a demandas criadas pelos desafios que a arte impõe; exemplos disso são a resistência de materiais para ultrapassar grandes vão arquitetônicos, a necessidade de gravar os sons, criar ilusões ópticas … A comunicação e os processos e linguagens usados pela hoje ciência da comunicação nos revela o quanto o mundo e as culturas têm transformado.

Das primeiras pixações encontradas na Grécia e Roma, à catequese na forma de desenhos em quadrinhos, do século VIII, (os mais antigos conhecidos), a qualquer forma de linguagem frequente na contemporaneidade, percebemos que na interação entre a imagem e a palavra o receptor é induzido a um campo de significados que está posto pelo criador dessa associação possível.

Onde queremos chegar?
A imagem é sempre fruto de uma escolha que interage em um processo que relaciona a intimidade de quem olha e vê com a daquele que olha, recorta, compõem e apresenta… estamos sempre construindo e reconstruindo realidades formando o calidoscópio do mundo que é infinitamente maior e mais complexo do que aquilo que definimos como realidade nos apresenta.

O olho + um meio + um desejo/objetivo = uma interpretação

Um fotografo + uma máquina + um objeto a ser retratado = uma história

Quando o retratar é documento? Quando ele se transforma em arte?
Pessoalmente eu perguntaria quanto tempo és capaz de lembrar? Retomar na retina de tua memória a imagem, ela ilustrou ou significou?
Hoje estamos aqui para apresentar possibilidades e funções… estabelecer paralelos, na verdade somar e não dividir.

Qual o papel da ilustração, será de apenas reafirmar? Acredito que não, uma imagem tem mais do que semântica, a boa imagem traz com ele sentimentos, emoções, compartilha uma atmosfera… nem todos compreendem isso, mesmo em um mundo de imagens, visual, como vivemos a maioria é meio que analfabeto visual, só lê o que está na cara, gritante… penetrar as sutilezas da informação visual requer que se pare mais que 10 segundos frente a imagem, é preciso pelo menos 20 a 30 segundos … parece pouco mas não é.
Hoje a grande maioria das pessoas acreditam que em 5 segundos terão visto, passar os olhos não é ver, o olhar passa e reconhece… o enquadramento gera interpretação… pense no manuseio que fazem dos seus celulares, como usam a máquina fotográfica, o coleção de imagens, retirando os selfys, representa e informa o que sobre o seu mundo? Podemos interpretar as relações que estabeleces através das tuas imagens ou da coleção que reténs?
Instagram, Pintrest…


A antropologia visual e o fotojornalismo podem ser interpretados como faces de uma mesma moeda….