quarta-feira, 16 de março de 2011

Visualidades e Ecos Visuais: uma avaliação…


As duas exposições que tiveram como ponto central o apresentar aos mais diversos públicos possíveis os trabalhos realizados em Sobral não só por alunos do Centro de Ciências Humanas e em especial os de Ciências Sociais e os alunos participantes dão Projecto de Oficina Escola de Artes e Ofícios de Sobral foi marcado pelo companheirismo, integração de equipas, a troca de informações saberes e ideias … foi acima de tudo a vivência de trabalhar em equipa onde se experimentou verdadeiros exemplos de reciprocidade.
Cheio de pequenos problemas de organização especialmente no que deveria ter sido um evento sincrónico: o Visualidades dentro do espaço da Universidade Estadual Vale do Acaraú e o evento ampliado dentro do âmbito Municipal através da Secretaria e Cultura, o Ecos Visuais mas um, passamos a ter provas de perseverança de todas as partes frente a um projecto que passou a ser um ponto de honra para todos. Como todos os empreendimentos desta monta, especialmente o Ecos Visuais que se realizou tardiamente entre os meses de Dezembro e Janeiro na Casa de Cultura, sentimos um desgaste pelo adiamento contínuo o que levou a um distanciamento significativo dos jovens do Projecto de Oficina Escola, estes eram no caso de minha participação em especial, o foco de meu maior interesse. Avaliação em momentos como este não é necessariamente o resultado estético da mostra que com a colaboração preciosa da equipe de iluminadores do Teatro São João resultou de modo a dar dignidade a tudo que ali foi exposto com igual tratamento. Não deve ser avaliada a qualidade artísticas das obras em si, uma vez que estas em 80% dos casos representavam a primeira vez que estas pessoas tinham usado este materiais e vivenciado a possibilidade de apresentarem publicamente os seus resultados, mas se essa avaliação fosse de facto importante teríamos que reconhecer que dados os contextos estavam frente a trabalhos que têm mérito próprio e um conjunto que poderia facilmente ser deslocado do seu contexto que mesmo assim, manteria sua dignidade estética e os seus valores intrínsecos de manifestações artísticas.
A exposição foi dividida em cinco grandes contextos: o primeiro o da experimentação de materiais e formas realizado com os alunos do Projecto Oficina Escola; o segundo a realização e a colocação de dois grandes murais abstractos com 20m de extensão por 1.60m que foram apresentados como elementos de uma instalação com os ‘discursos’ gestuais de dois grupos de jovens, um sobre as questões relativas ao aquecimento global e a preservação do meio ambiente e o segundo sobre a Liberdade de Expressão, a diferença e a violência a que estão todos expostos; o terceiro contexto diz respeito a Antropologia Visual, os recursos fotográficos e os meios de exposição/instalação onde a relação académica (reflexão e investigação) se constituiu em elemento de aliança para gerar um terceiro referencial que é o da aproximação de qualquer público (preparado ou não) para reflectir sobre o que se descreve; em contrapartida o quarto contexto se fez com a reunião de um conjunto de fotografias realizadas durante uma oficina de linguagem fotográfica para um público heterogéneo que resultou em uma experiência de descoberta de linguagens artísticas com este meio e a reeducação do olhar sobre a cidade; por fim, dentro desta mesma óptica foram apresentados uma série significativa de vídeos produzidos tanto no âmbito da universidade em um projecto associado ao Laboratório de Oralidade e Memória (LABOME) quanto a um da Secretaria de Cultura de orientação de vídeos amadores. Os cinco contextos foram articulados de modo a apresentarem-se uns aos outros estabelecendo verdadeiros diálogos onde o mote se fazia tanto por parte do exercício diferenciado de construção de linguagens, pela exploração e quanto pela apresentação das realidades ali expostas explícita ou implicitamente.
A grande lição no entanto se fez com a vivência de momentos de reciprocidade onde alunos, professores, instrutores e funcionários compartilharam suas experiências em relações de igualdade e não de solidariedade como normalmente acontece. Cabe aqui uma pequena reflexão sobre esta parte. A reciprocidade ao contrário da solidariedade tão em voga é o estabelecimento de relações de iguais onde não temos a constituição de hierarquias e onde a relação é de troca por paridade. O que isso difere de um acto solidário? A solidariedade implica necessariamente em uma das partes sendo detentora de algo que é necessário para o outro; nesta relação o actor que tem um papel dominante irá ‘benignamente’ oferecer ao que não tem esta parte. A solidariedade portanto, é muito mais um exercício de poder “misericordioso” dentro da ‘boa’ tradição cristã de relação de poder e/como pecado do que uma de exercício real de humanitarismo. Acredito que a fora as ideologias o que tendemos a desejar para o mundo é um espírito cada vez mais de reciprocidade mesmo que o estabelecimento deste seja para um mundo marcado pelo individualismo exacerbado algo nada mais que um referencial utópico.

Ainda bem que podemos ter pequenas práticas de utopia.