segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Arte e rebeldia?


As aulas de História da Arte na ECOA são dois exercícios simultâneos: repassar informação e a criar... Hoje em Tendências Contemporâneas paramos para refletir sobre o quanto a arte e os artistas nos dias de hoje trabalham com a noção do efêmero. Desde a década de 70, no Brasil, temos assistido a constante reivindicação a cerca das artes enquanto instrumento de conscientização, de construção e apoio as vanguardas de todas as áreas e quase contraditoriamente o pensar a preservação da arte a sua manutenção enquanto mercadoria e a sua adaptação aos novos ideais de produção e a adequação destes ao mercado. Paradoxalmente enquanto se deseja destruir o objeto artístico se está constantemente criando novos meios de o transformar em produto.Aparentemente a lei da mercadoria enquanto meio prevalece também onde imaginamos que ela não deveria estar tão arraigadamente presente.Quanto vale a criatividade, a ideia ou uma nova noção? Como se avalia a ousadia, a determinação, a inventividade?O Graffiti, se fosse transformador , seria ilegal afirma Bansky, infelizmente tendo a concordar. Os anos em que tentamos trabalhar a distinção entre pixar e graffitar parecem ter sido há séculos. Hoje qualquer jovem não se surpreende mais com a diferença mas com a preocupação com a distinção, não falamos mais de territórios... até mesmo se passa a cultuar muralistas-grafiteiros. 

Dos atos de rebeldia e ocupação quase anárquica dos espaços os artistas agora submetem-se a terem seus projetos de rebeldia (?) patrocinados, sacramentados e principalmente desviados do seu percurso de rebeldia, conscientização...

Uma das coisas que me chama a atenção é quando: no discurso do artista (protagonista de minha reflexão) encontramos a incoerência de suas ações, a vivência de valores extremos.Não, não estou querendo dizer com isto que o artista deve manter-se na marginalidade nem que o Graffiti, no caso, não é válido; é. 

O que desejo chamar a atenção é que estamos muito longe dos princípios norteadores deste tipo de manifestação e que mesmo nos primeiros anos da década de 80 em São Paulo, Alex Vallauri, já apontava o modo de absorção desta forma de invadir as ruas como materialidade POP, produto de venda e consumo da irreverência...

Acredito que devemos pensar fora de esquadro para podermos pensar.

domingo, 9 de outubro de 2016

Refletir a educação


A verdade é que a minha geração (nasci em 1961) e a geração logo anterior a minha imaginou que depois de viver o AI5 nunca mais voltaria a enfrentar a opressão, a violação aos nossos direitos básicos de construir e um mundo de acordo com ideais e dentro da pluralidade sonhada desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Parece que tudo não passa de ilusão.
A sociologia nos tem revelado o quanto somos incautos. Não percebemos que a perda da liberdade é de todas a maior arma que os opressores têm contra a população, que a educação enquanto instrumento de conscientização é perigosa para as complicadas teias de poder alicerçado na exploração de mão de obra barata, na inadvertida crença de que há certo e errado ... Os teóricos nos fizeram estudar tudo isso e como as lições de Maquiavel os "Príncipes" as colocam em prática... assim ao longo deste último pequeno século lutamos arduamente para fazer valer os Direitos Humanos, os princípios de equidade, fraternidade e solidariedade, tentamos plantar no coração dos homens as sementes da paz.
Teremos fracassado?
Teremos ao estudarmos e difundirmos as lições de Sociológos, Filósofos, Pedagogos, Humanistas enfim, feito mal irreparável ao Ocidente Cristão, temente, consciente, materialista, individualista e se tornando ególatra?
Teremos em busca do justo, plantado o injusto?
Não quero defender ninguém mas não posso imaginar que tudo em que fui levada a acreditar e que por tudo que tenho trabalhado minha vida toda tenha chegado a isso! Intolerância e Intransigência.
A LDB de 1996,  uma carta aberta aos processos democráticos e de igualdade ultrajada por uma Lei Provisória que  desmantela o sistema educacional ... uma vez iniciado o processo de desmobilização do conhecimento, este jamais será recuperado. Livros, métodos, ideias e ideais transformados em lixo porque serão: incinerados os livros, calados os professores que auxiliam a criação de ideias, a abertura de mentes e olhos... reificados serão os ignorantes, os cegos de espírito, os autômatos do poder...
Sem termos ainda compreendido como, ficamos sem Presidente da República Brasileira (impeachment sem culpa ou real comprovação), seu interino destrói por tolice, inconsciência, ignorância, perseguição ou pura maldade, a possibilidade de milhões de cidadãos construírem seus futuros. A ortodoxia ( no seu sentido mais negativo) nos joga de volta a intransigência de uma era Vitoriana que nunca tivemos, a Inquisição (que só vimos de forma ligeira) mas a vivência real e ainda em nossas memórias dos processos do Ato Institucional nº5!

O medo de dizer o que pensa,
o medo de pensar,
medo de cantar,
medo de ser o que se é,
medo do medo,
medo de ter esperança,
medo do amigo,
confidências inconfessáveis,
silêncio!
Não poder ler,
não poder ver,
não poder pensar,
não poder...
Silêncio,
cala,
atrofia,
mata.


não quero deixar de herança camisas de força, enforcados,
Não quero imaginar que não há ciência e que a Ciência se esvai entre mãos de ignóbeis poderosos bastardos do saber, do pensar, do ser ...
Quero ver e ouvir o grito da liberdade, da independência, da autonomia dos povos, da autodeterminação!

Me desculpem,
 sou professora,
 acredito no que sou e no que faço!

domingo, 2 de outubro de 2016

Tendências Contemporâneas


Dentro de alguns dias começaremos a refletir sobre a orientação do Roberto Galvão sobre as Tendências Contemporâneas nas Artes Visuais. Andei fazendo minha pesquisa e revendo anotações, observações, pesquisando através do ciberespaço... enfim tentando ver do que se tratar fazer arte aqui e agora...
De fato: não sei bem. Em uma primeira visita parece que nada mudou muito desde os anos 80, mas lá se vão trinta e tal anos... o que sentia então era um certo desconforto ao perceber que os meus colegas de sucesso em sua maioria pareciam que tinham deixado de saber desenhar, pintar, usar os materiais básicos, quando não pareciam realizar trabalhos cheios de gratuidade, sem reflexão de certa forma oportunista... a verdade é que muitos dos meus colegas de então se perderam no caminho e hoje ninguém sabe o que fazem... desapareceram. 
A arte e a produção artística é assim: quem não tem conteúdo se perde no passar do tempo ou como diria o poeta nas areias.
Hoje muita coisa se faz, ou talvez a divulgação é extraordinariamente maior, muito do que conclamamos é arte efêmera e arte pública, as relações entre espaço e tempo se estreitam na medida em que a produção artística se faz tanto pela execução da obra quanto por sua documentação. As relações estreitas entre tecnologia, principalmente a informatização, os processos digitais e virtuais de construção parecem dominar, ao mesmo tempo somos confrontados com o gigantismo na arte em contraposição aos espaços que habitamos.
Isso me leva a outra trama de indagações: as galerias?
 A arte continua a ser produto de consumo? 
Onde e como esse mercado opera?
Questões pertinentes para os sonhos dos jovens artistas e produtores, espero que teremos respostas que não sejam as de nos dizer que temos que entrar no jogo do marketing e passarmos a ser "industria criativa" ... operários da arte.

Imagem atribuída ao Bansky retirada da internet... sem informações.