As vezes a criatividade se alia aos interesse pessoais e a partir deles passamos a possibilitar uma abertura de visão aos nossos alunos fruto das vivências pessoais e incompartilhaveis por sua própria natureza, assim é a fruição, do mesmo modo a experiência de uma filatelísta.
A primeira vez a que somos apresentados ao mundo filatélico, nem sempre é a viagem à um mundo maravilhoso e desconhecido mas com certeza se ficarmos atentos ali está a semente de uma sensibilidade diferenciada para o mundo. Há quem tenha a ideia triste de que coleccionar selos é coisa de quem não gosta de gente ou de quem não tem nada mais interessante a fazer....infeliz de quem, sem ter provado o sabor deste pequeno e por vezes requintado vício, julgue assim, a desculpa formal é o selo, mas o que se passa a interagir e a compartilhar, ultrapassa em muito os alguns poucos centímetros de papel que objectivamente fazem transportar os sentimentos, experiências e lembranças, transformados em palavras ou expressões gráficas chegar até nós. Um selo é fruto de uma pesquisa e do trabalho árduo de construir uma composição plástica ao mesmo tempo capaz de transmitir de modo instantâneo ideias, ideologias capazes de levar cada um de nós como cidadãos á um estado de consciência solidária ampla e irrestrita....
O selo é um formador de opinião, a sua circulação e demanda, reflectem os níveis de interacção portanto de resposta social á campanhas, políticas públicas e acções de mobilização social. O Selo tem inegavelmente uma função educativa e ideológica, como instrumento dos aparelhos do estado pouco visível, no Brasil, torna-se quase 'invisível' devido á conscientização pública em relação ao seu poder e acção. O Brasil quase que contraditoriamente tem, um dos serviços postais que tem sido referência mundial em vários momentos de nossa história. Este serviço é um termómetro para analisarmos a auto-estima do Brasileiro, sua criatividade e o seu compromisso com a nação.
A utilização do selo dentro do contexto explicito da sala de aula, não é novidade para muito poucos, mas é com certeza uma excelente fonte de informações, na Universidade Estadual Vale do Acaraú , dentro do Centro de Ciências Humanas temos em várias ocasiões apelado para a boa vontade da Secção Filatélica do Estado do Ceará e através do Francisco das Chagas Mendes em Sobral e da Júlia G. Mello em Fortaleza estabelecido uma verdadeira parceria, trabalhando os temas de nossos eventos e encontros de modo transversal utilizando-nos do rico repertório da filatelia nacional.
O professor atento percebe imediatamente que a organização de uma colecção é: trabalhar os princípios básicos da metodologia da pesquisa científica; o exercício do estabelecimento de critérios de escolha do material coleccionáveis; o modo como se problematiza a colecção para que com ela passemos a investigação por fim o acto de organizar a colecção propriamente dita, nada mais é do que a realização das etapas fundamentais de uma pesquisa académica e a 'redacção' final da monografia.
Cada tema por mais incomum que seja, pode ser encontrado magistralmente trabalhado em um pequeno pedaço de papel, a tecnologia sempre se encontra ali manifesta seja como objecto de ilustração seja como novidade a se comemorar ou como parte deste campo vasto e criativo da gravura. Um selo holográfico, com cheiro, personalizado, ou em Brail, selos que têm a função de nos fazer determos e conscientizarmo-nos da existência de um mundo suas justiças, suas injustiças, suas belezas e suas tristes realidades muito distantes do nosso pequeno 'paraíso doméstico'
A edição especial do Jornal Filatélico comprovou que: mesmo distante do litoral, catalisador, nós aqui no sertão sem mar já fomos despertados para uma prática diferente, já usamos dos recursos invisíveis de um selo e com isso nos tornamos vanguarda.
R. Raick
Publicado em Pinhel Falcão Ano XXV – III Série nº 118, 6 de Julho de 2001, Portugal.